quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A DOENÇA DAS GRANDES CORPORAÇÕES

“Toyota Executive Says Recall Might 'Not Totally' Solve Accelerator Problems

James E. Lentz III, the president of Toyota Motor Sales
U.S.A., told the House Energy and Commerce Committee on
Tuesday that Toyota's huge recall might "not totally" solve
the problem of unintended sudden acceleration in some of its
vehicles.”
Esta nota no The New York Times de 23 fevereiro mostra que mesmo empresas com reputação mundial podem sofrer das "doenças de tamanho".

O histórico empresarial de grandes empresas é conhecido e fartamente documentado. Em ciclos (com diferentes períodos temporais) todas essas organizações tendem a fornecer retornos decrescentes aos acionistas e à sociedade (quando não destroem totalmente a empresa- levando junto empregados, clientes e fornecedores).
Recentemente a Universidade de Stanford fez um levantamento comparando os 50 grupos empresariais na década de 60 e com o mesmo ranking em 2009: apenas uma empresa permanecia entre as 50 maiores – a PROCTER & GAMBLE. Todas as outras passaram pela síndrome da grande empresa: cansaço, inchaço e inanição. Algumas encolheram, outras pereceram.

Parece que houve uma epidemia desta doença entre empresas do setor financeiro americano e britânico. A crise propiciou as condições ambientais para que o ciclo se acelerasse...
A frase “too big to fail” é um indício do estado febril do paciente.
Mas nem tudo está perdido. Se estes grupos financeiros fizerem o tratamento adequado, podem evitar o pior.
As três principais recomendações médicas são (na visão deste autor):
1) Evitar a falta de consistência (estratégica e operacional): Fatores políticos internos (e inerentes às grandes organizações) não devem afetar projetos . A constante mudança de diretorias e gerências provoca o efeito “prefeito de cidade pequena”: tudo que foi feito pelo gestor anterior é descontinuado pelo atual;
2) Montar uma estrutura leve e de baixo custo: São comuns nos estágios iniciais da doença a proliferação de novos níveis nas estruturas organizacionais. A operação regional responde para uma nacional que responde para uma LATAM que responde a uma mundial. Tudo isso recheado de cargos e tecnocratas que vão procurar perpetuar-se na empresa (e garantir o salário e a vida de gato gordo);
3) Ter uma Governança Corporativa atuante: Nota-se o afastamento do acionista do acompanhamento das decisões estratégicas tomadas. Os proprietários estão de tal forma distantes e o controle da empresa pulverizado que seus prepostos (executivos) esquecem a quem devem trazer resultados e passam buscar seus próprios interesses;

Ao discutir o assunto com o especialista em planejamento Roberto Patriarca, o mesmo fez uma interessante observação: nos países maduros vemos muitas empresas gordas (evidente com exceções). Ele tem razão: quando os ventos do crescimento cessam a tendência é aflorar estas ineficiências e os gatos gordos saírem debaixo das mesas. Ele faz uma interessante metáfora com a saúde da população nos países, já que agora as doenças de coração e obesidade são as que mais matam nos países desenvolvidos (doenças de países ricos). De modo análogo esta 'obesidade mórbida' está ocorrendo nas grandes empresas dos países ditos "ricos"? Será que deveria existir um teste para medir o “colesterol” destas empresas? Como um acionista identifica esta obesidade mórbida empresarial?
Prof Ramiro Gonçalez FIA ramirogon@uol.com.br

2 comentários:

  1. Ramiro, ótimo tema, Arie de Geus escreveu um livro muito interessante, chamado 'A Empresa Viva' onde ele estudou as poucas empresas que duram mais de 500 anos. Resumindo o argumento, essas empresas não se vêem como máquinas focadas em crescer e otimizar resultados de curto prazo (o que cada vez mais é a tendência), e sim se vêem como comunidades de pessoas com um propósito, geralmente focadas em poucos nichos, que se mantêm muito sensíveis ao ambiente, são descentralizadas e muito conservadoras financeiramente. Talvez o ser humano não consiga administrar bem empresas que passam de certo patamar de tamanho e complexidade. Senti isso na pele, trabalhei 7 anos na GE, vi como ela se tornou grande e complexa demais, hoje o valor da ação é um quarto do que era quando eu saí (2001).

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  2. Juan grandes exemplos. Nosso amigo Toledo me instigou a escrever sobre o tema quando discutimos os diferentes caminhos profissionais que os colegas tomavam. As queixas de sintomas da "doença de empresa grande" eram comuns naqueles que optavam por grandes corporações. Agora no sistema financeiro o problema é agudo (sem trocadilho).
    Quem não se lembra nas décadas de 80 e 90 os 250 vice-presidentes do CITIBANK. Um incauto (como diria Elio Gaspari) perguntaria: com tantos vice-presidentes quem trabalha no CITI?
    Acabou sendo financiado pelo americano classe média do interior...

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