segunda-feira, 24 de agosto de 2009

GEPP DEFENDE DEBATE SOBRE PRÉ-SAL

Pré sal: um debate que depende da iniciativa da sociedade

O relâmpago foi visto, mas o estrondo forte ainda não foi ouvido pela sociedade. Como um grande trovão sabemos que o tempo vai mudar, mas não nos preparamos. Algo tão importante para o futuro do Brasil vai sendo estruturado sem debate: o modelo do pré -sal.
Até o momento governo não abriu ou provocou uma discussão ampla com a sociedade dos aspectos relevantes que definirão o modelo de pré-sal. A análise e o real entendimento do problema está circunscrito a uns poucos técnicos do ministério do planejamento, ANP, PETROBRÁS e de alguns setores que estão na cadeia produtiva do petróleo. Provavelmente não mais do que 30 pessoas no Brasil têm acesso ao projeto como um todo, suas interconexões e futuros impactos. O mais preocupante é que parece que este pequeno círculo de indivíduos não está disposto a iniciar um debate sobre o tema.As decisões tomadas por este pequeno círculo de técnicos nos afetará por pelo menos 20 anos. Os valores envolvidos no Pré-sal são de escala equivalente a introdução da indústria automobilística no Brasil. Alguns dados que demonstram esta analogia:
1) Reservas estimadas entre 60 e 180 bilhões de barris, sendo o mais provável 90 bilhões de barris (o dobro das reservas da Noruega);
2) Petróleo de qualidade: o petróleo originalmente extraído no Brasil, tanto no mar como na terra, sempre foi de baixa qualidade (menor que 25 API –medida de densidade relativa com a água). Trata-se de um petróleo pesado, com baixos índices de voláteis (querosene, diesel e gasolina). O petróleo do Pré-sal, ao contrário, é leve de alta qualidade (acima de 25 API);
3) Reservas internacionais em queda: O caso mais dramático para representar a futura escassez é os EUA, que possuem apenas 39 bilhões de barris para um consumo anual de 10 bilhões de barris;
4) Em termos financeiros e econômicos os montantes são ainda mais relevantes: se as reservas forem precificadas conservadoramente a US$ 50 o barril teremos US$ 4,5 trilhões em recursos (quase três vezes o PIB brasileiro).
O efeito multiplicador na economia é potencializado pelo enorme esforço logístico e tecnológico para extrair eficientemente este petróleo.

O Grupo de Engenheiros da Escola Politécnica da USP (GEPP) fez um levantamento preliminar do detalhamento das necessidades de recursos humanos e infra estrutura. Estimativas conservadoras apontam para números impressionantes:
i) cada plataforma de petróleo necessitará em média 500 técnicos para operar;
ii) serão necessárias, nos próximos 8 anos, 50 plataformas ou o equivalente a 25.000 profissionais na operação direta do pré-sal. Teremos de construir um mini arquipélago de plataformas (com dimensões de uma cidade) a 200 km da costa brasileira.
Para fazer esta cidade funcionar, os recursos indiretos necessários nas estruturas de apoio, manutenção e suporte a vida, gerarão 10 empregos indiretos para cada emprego direto. Mais de 250.000 postos de trabalho serão abertos, demandando profissionais qualificados e com conhecimento especializado. O GEPP estima que 2.000 empresas das áreas de componentes elétricos, metalurgia, mecânica, treinamento, informática, refeições, segurança, transportes aéreos e marítimos serão necessárias na cadeia logística. Uma nova onda industrial irá se estabelecer vinculada a operação do Pré-Sal.
É triste perceber que apesar da avalanche de notícias sobre o Pré-sal, não houve nenhuma iniciativa para estabelecer ou mediar um diálogo entre os atores tanto da cadeia logística tanto como os beneficiários indiretos dos recursos oriundos pré-sal.
Precisamos estimular encontros entre administrados, engenheiros, ambientalistas, tecnólogos e técnicos interessados em debater as melhores estratégias técnicas. Precisamos ver juristas estudando o marco regulatório suas limitações e consequências. Precisamos ver gestores públicos e financeiros analisando com o os fundos do pré-sal serão geridos (com enorme impacto no câmbio). Precisamos ver educadores preocupados em garantir que o dinheiro que será dedicado a educação seja realmente aplicado de forma eficiente.
O assunto é por demais complexo para não haver uma discussão sobre os rumos que queremos. Parece que esperamos que uma “entidade superior” vá trazer a melhor solução. Não vai.
Nossa geração precisa acabar com este debate “onde ninguém fala e ninguém ouve”. Senão quem pagará a conta dos erros e acertos das decisões tomadas, será a geração que ainda está por nascer e portanto não pode dar voz aos seus anseios. RAMIRO

2 comentários:

  1. MORO NO Rio E ESTOU ACOMPANHANDO O "NÃO DEBATE" DO PRÉ-SAL. VÁRIAS ENTIDADES VÃO BOICOTAR O LANÇAMENTO DIA 31 MARÇO. Ramon Fernandez Pacde

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  2. Acredito que o Ramon Ferndez tentou dizer 31 de AGOSTO. Vejam artigo hoje na FSP sobre o pré sal-http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2808200908.htm

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